Um dia desses eu estava voltando para casa e fui seduzido por um cheiro. Não, não era nenhum perfume caro ou uma árvore com flores. Era um campo grande, com árvores altas e a grama baixa. Aquele cheiro circulou pelas minhas vias aéreas e chegou ao meu cérebro, numa áreazinha bem estranha e sinistra. Chegou à memória.
Era noite. Num piscar de olhos, vi as toalhas estendidas sobre o chão, os pequenos correndo pelo campo, as árvores balançando forte e o sol brilhando. Num outro piscar, tudo sumiu. Tudo desapareceu, e eu descobri que o campo continuava vazio e escuro. Mas tudo aquilo estava comigo, guardado em algum lugar.
Coisa assim é sensação boa, mas depois ruim. É estranho pensar que más memórias me deixam triste, mas que as boas lembranças não me tornam feliz. É ruim porque foi bom e não vai voltar. Não me deixa feliz por que se foi. Mesmo que eu vá ao mesmo lugar, com as mesmas pessoas, com as mesmas toalhas, e pode as árvores como elas estavam naquele dia, nunca consiguirei trazer o momento de volta. Além disso, as toalhas se desgastam, as pessoas se vão.
Eu tenho problemas em aceitar que algumas coisas nunca voltam. Sei que se foram, mas a felicidade que um dia me trouxeram fica amenizada dentro de meus pensamentos, pedindo para um dia acordar. Eu sei que dormirão para sempre, mas não queria que fosse assim.
Não preciso de esforços pra saber que lembranças me movem e me comovem. O passado atua no meu presente, e o futuro um dia vai atuar. É um ciclo onde cada parte depende da outra. E essa tal de nostalgia vai surgindo conforme tudo vai passando...
Cavalo Negro ♞
