Ônibus e o passageiro xereta.

      Eu adoro andar de ônibus e criar teorias sobre quem entra e quem sai. Quais são seus pensamentos? Sobre que assunto as conversas fúteis dos adolescentes que não sabem sobre a vida segue, as conversas da meia idade sobre como a filha casou e está esperando o primeiro filho, e a dos idosos sobre como fulano morreu de um ataque do coração, e da consulta que está marcada para o próximo mês, uma enrolação só.
      Quando se anda de ônibus todos os dias você acaba decorando alguns rostos que passam a ir todos os dias com você e tu meio passa a caracteriza-los,  tipo um cara que trabalha numa fábrica mas não é peão porque sua vestimenta é social e também não é um cargo muito alto pelo simples fato que ele não têm um carro, mas o detalhe interessante sobre ele é que no ponto em que sobe ele está jogando um cigarro no chão, do caminho da rodoviária até a fábrica são mais 2 e sua voz me parece sempre pacífica e eu realmente gostaria de saber porque uma pessoa que não demonstra estresse fuma tantos cigarros já as 7 da manhã, eu realmente gostaria de saber.
      Sei que é feio ficar reparando vida alheias mas é que não a nada a ser feito desde que eu aprendi a fazer cara de paisagem enquanto na verdade observo as pessoas. Outra figura do ônibus é uma garotinha que deve ter no máximo uns 10 anos completamente infantil e dependente da mãe, eu acho que ela parece um pombo, foi assim que passei a decora-la, a menina que parece um pombo. Por mais maldade que possa parecer, não é! repara quando você andar na rua, qualquer pessoa vai ter um jeito de uma ave, eu queria conhecer muitas para poder nomear a todos.
     Mas vamos aos velhinhos, as minhas figuras favoritas quando eles não sentam no corredor e fazem uma expressão extremamente arrogante querendo dizer "não sente do meu lado, adolescente ingrato" eu de verdade não entendo da onde vem esse ódio. Mas quero dizer que os velhinhos são extremamente legais, tal como um que apesar dos seus repetidamente ditos 81 anos parece bem mais disposto que eu, e conversa com todo mundo com aquele velho e doce clichê da terceira idade: "O tempo passou". Não sou velho e honestamente, gosto desse clichê pelo simples fato que o tempo realmente passou. Vocês já devem ter percebido que sou xereta, stalker, curioso e qualquer outro sinônimo para isso, mas a minha figura favorita do ônibus é um velhinho que está sempre lá com a sua mesma calça marrom e a camisa azul bebê, sua bolsa de feira e seus papelões, papelões que ele não para de escrever. Me lembro da primeira vez que o vi  no ônibus, sai mais cedo de um curso que fazia e ele se sentou num banco no fundo do ônibus  e eu do outro lado do corredor, eu tentei ler o que ele tanto escrevia e só reconheci alguns nomes e palavras sem sentido, jurava que o nome era o nome de uma filha ou amada que partiu o fazendo per a sanidade, essa teoria seguiu até alguns encontros seguintes de eu me sentando descaradamente perto de velho só pra ver o que ele tanto escrevia, de pescoções esticados a reflexos no vidro. Até que uma vez eu o ouvi falar pela primeira vez, o que ele disse não fez o menor sentido, murmúrios de um louco qualquer que parecia viver mais pra lá do que pra cá e eu que também não tenho a cabeça muito no lugar  cheguei a uma conclusão: Ele não acreditava ser desse mundo, e todas aquelas palavras são seu próprio idioma, uma linguagem só pra si. Essa ideia para um maluco como eu foi demais, um dia ele se sentou bem na minha frente em um daqueles bancos mais altos e eu finalmente consegui ler o papelão! era apenas um português com uma letra mal feita, confesso que fui tomado por uma certa frustração, mas pra mim ele sempre falará suas própria língua.



Bispo Negro 


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